terça-feira, 29 de junho de 2010

Caixa-Parasita para um Cinema Itinerante


A cidade se agitava com a chegada daquilo que nem sabia-se o que era. Algo que estranhava o olhar de muitos moradores daquela cidadezinha. Logo, amontoaram-se os curiosos para ver o caminhão descarregar. Nele havia algo escrito, alguma coisa e o nome “cinema”. Qual o que? Cinema, para muitos, não era.
Lonas dobradas foram sendo retiradas uma a uma do caminhão. Foram esparramadas sobre o gramado do campinho de futebol da praça. Naquela manhã, os garotos não jogaram a pelada das manhãs, mas se contentaram em observar e apostar um com os outros o que era aquilo que havia chegado na cidade. “É um circo, certeza que é um circo!” - um dos garotos gritou afobado certo de que, como primeiro a dar o palpite, ganhara a aposta. “Circo? Não é circo! Você já viu circo quadrado?” - retrucaram. E continuaram as especulações, atentos a cada manejo dado pelos operadores. “Mas cinema....não é.”
Retiraram um motor de uma caixa e inflaram três balões que logo subiram alto, tirando a atenção do asfalto cor de terra. As crianças e os demais ociosos olhavam fixo o céu para ver o movimento engraçado dos balões.
Depois dos balões, os operários repetiram o processo com as lonas que até então, para mim, pareciam estar apenas esparramadas na grama.
Como se ganhasse vida, um prédio foi subindo, subindo, subindo, subindo, subindo, subindo, subindo, subindo, subindo, subindo... Ficamos por horas vendo ele subir e se erguer como se quisesse abraçar todo seu redor. Os tubos que balançavam nos cantos do seu teto tremiam como se a minhocas escondidas nos buracos daquela grama também tivessem inflado e em vigança, resolvido agitar toda a cidade.
Algumas crianças chegaram mesmo a acreditar que o cinema sairia voando se um engraçadinho qualquer resolvesse cortar as cordas que o prendiam no chão. Mas ningguém queria ver o cinema indo embora.
Ele foi.
A cidade voltou a se aquetar, os garotos tiveram seu campinho de volta e os olhares retornaram ao asfalto cor de terra.
Em uma semana vi um prédio sendo enchido como bóia e como se eu estivesse mesmo boiando, assisti cinema pela primeira vez.

Relato de Junho de 2010.

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